04 março 2012

Caio Fernando Abreu



Entre os ramos cobertos de flores
havia uma espécie de vão,
uma fresta, uma porta,
e eu fui entrando por ela até ficar
dentro daquela coisa colorida.
Era escuro lá dentro.
Era cheio de galhos trançados e torturados,
e muito escuro, e muito úmido,
parecia assim ter feito uma grande dor
ali cravada naquele centro
cheio de folhas apodrecidas
e flores murchas no chão.
Pelo vão, pela fresta, pela porta
eu conseguia ver o sol lá fora.
Mas aquele lugar era longe do sol.
Era uma coisa, uma coisa assim
desesperada e medonha,
você me entende?
Então pensei em sair lá de dentro imediatamente,
sem olhar para trás,
mas ao mesmo tempo que queria ir embora,
queria também ficar para sempre lá,
e se me descuidasse,
se alguma coisa mínima em mim
perdesse o controle
eu me encolheria ali naquele chão frio,
olhando os galhos tão emaranhados
que não passava nunca um fio
daquela luz do sol lá de fora.



Estou em falta com todos meus amigos,
me perdoem.
Já passei por momentos difíceis,
já venci muitos deles,
mas existe algo dentro de mim
que está me angustiando,
e que eu ainda não descobri o que é.
Queria gritar, mas não sei qual é a palavra.
Queria não mais chorar,
mas vivo em um rio de lágrimas.
Queria rabiscar meus versos,
mas as rimas se foram...
Não sei mais o que é ser forte,
não sei mais quem sou eu,
me perdi de mim mesma
e não sei onde me procurar.

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